segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

"Amor á Vida": o melhor e pior da estréia de Walcyr Carrasco no horário nobre


Olá, internautas! Cheguei com um pouco de atraso, mas vamos lá!

Amor á Vida, a primeira novela de Walcyr Carrasco no horário nobre da Globo, chegou ao fim na sexta-feira, alcançando uma média consolidada de 48 pontos de ibope no último capítulo. Os índices devem ter deixado a emissora realmente satisfeita. Mas a novela, no geral, alternou bons e maus momentos durante seus 221 capítulos. Ao mesmo tempo em que teve vários méritos, mostrou personagens e situações frágeis. Por isso, aí vai uma lista do melhor e do pior dessa produção irregular.

O Melhor:

* Mateus Solano e Antônio Fagundes levaram a novela nas costas em vários momentos. O primeiro encarnou, de maneira excepcional, um vilão gay que caiu nas graças do público desde o primeiro capítulo. Apesar das maldades(algumas bem pesadas, como jogar a sobrinha recém-nascida numa caçamba de lixo) Félix foi "perdoado" pela audiência e acabou se redimindo conforme a trama ia se encaminhando para o final. E o segundo, na pele do homofóbico César, estava inspirado como há tempos não se via. Não por acaso, a última(e emocionante) cena da novela mostrou pai e filho declarando seu amor um ao outro.

* Walcyr Carrasco conseguiu surpreender com as revelações dos segredos da família Khoury. Começou quando descobrimos que Edith(Bárbara Paz) era uma ex-garota de programa e que seu casamento com Félix havia sido "arranjado" por César. Depois, ficamos sabendo que Jhonatan(Thales Cabral), filho de Félix e Edith, na verdade era fruto de um caso entre ela e César. Nesse tempo, Paloma(Paola Oliveira) descobriu que era filha de César com Mariah(Lúcia Veríssimo), tia de Aline(Vanessa Giácomo). E as surpresas seguiram: Félix teve um irmão mais velho que havia morrido afogado na piscina da mansão durante uma distração de Márcia(Elizabeth Savalla), então babá dos meninos que se desdobrava pra tomar conta dos dois. O filho morto era o preferido de César. Na última semana, foi descoberto que Jhonatan era mesmo filho de Félix e que Edith havia mentido para arrancar dinheiro de César. Por fim, Pilar(Suzana Vieira) revelou ter sido responsável pela morte da mãe de Aline e não César... ufa! Foram revelações que deixaram esse núcleo cada vez mais interessante.

* A abordagem da homossexualidade chegou até onde nunca se havia visto em uma novela. Em Amor á Vida, além do vilão homossexual representado por Félix, houve um casal gay - Niko(Thiago Fragoso) e Eron(Marcello Antony) - que teve um filho através de uma barriga de aluguel, adotou uma criança negra e lidou com uma crise conjugal graças á traição de Eron com Amarylis(Danielle Winits, ótima!). E que se separou e passou a disputar judicialmente a guarda do filho que tiveram. Félix, por sua vez, conforme foi se redimindo, foi se aproximando de Niko e a amizade que nasceu entre os dois se transformou em amor. E essa abordagem inovadora da homossexualidade foi coroada no último capítulo com a exibição do beijo gay, que duvido muito que tenha chocado alguém, frente á tanta desgraça que acontece no mundo. Esse incômodo tabu parece ter finalmente terminado! Aleluia!

* Amor á Vida apostou em vários casais que deram certo: Bernarda(Nathália Timberg) e Lutero(Ary Fontoura); o advogado Rafael(Rainer Cadette) e a autista Linda(Bruna Linzmeyer, uma fofa!); Márcia e Atílio/Gentil(Luís Melo); Valdirene(Tatá Werneck) e Carlito(Anderson di Rizzi); Edith e Wagner(Felipe Tito); Pilar e Maciel(Kiko Pissolato); e Thales(Ricardo Tozzi) e Nicole(Marina Ruy Barbosa) no início da trama. E, claro, Félix e Niko!

* Suzana Vieira se reencontrou em termos de interpretação em Amor á Vida. A veterana conseguiu fazer sua personalidade(que vinha falando mais alto em seus últimos trabalhos) sumir em cena na pele da sofrida Pilar. Foi a salvação de sua carreira.

* Tatá Werneck já era conhecida em seus tempos de comediante na extinta MTV. Mas foi na pele da periguete frustrada Valdirene de Amor á Vida que a moça ganhou projeção nacional. Sua personagem, a princípio, iria se tornar evangélica no meio da trama, mas o sucesso da "piradinha" foi tanto que o autor decidiu mantê-la apenas como alívio cômico. Nem todas as situações vividas por Valdirene foram engraçadas, mas Tatá conseguiu se sobressair e fazer o público se divertir com sua graça espontânea. E ainda formou uma bela dupla com Elizabeth Savala.

* O núcleo da falida Gigi(Françoíse Forton) tinha pouco espaço na trama, mas ainda assim chamou a atenção. Ali, Walcyr Carrasco apresentava um humor menos infantil do que em outros núcleos e com um toque de refinamento. E essa trama ficou ainda melhor quando Gigi resolveu dar o golpe do baú no milionário Ignácio(Carlos Machado). Risadas garantidas!

O PIOR:

* O texto de Walcyr Carrasco sempre foi conhecido pelos diálogos didáticos e auto-explicativos ao extremo e por piadas que beiram o infantil. Caíam bem em suas novelas das 18h e até dava pra relevar no horário das 19h. Mas ás 21h esse didatismo soou forçado e artificial, prejudicando a história. Qual era a necessidade de lembrar ao público o tempo todo que Félix havia jogado a sobrinha numa caçamba? Aliás, nem dá pra contar a quantidade de vezes que a palavra "caçamba" foi repetida. Félix foi a sensação da novela, mas algumas de suas piadinhas destoavam do clima tenso de algumas cenas. Resumindo: as melhores falas da trama estiveram no núcleo cômico.

* O triângulo amoroso principal não empolgou. Se a mocinha Paloma(Paolla Oliveira, que fez milagre em cena) já não tinha química com Bruno(Malvino Salvador, canastrão toda a vida), com o sem-noção Ninho(Juliano Cazarré) o resultado era ainda pior. Ninho, aliás, mudava de personalidade toda hora, deixando até mesmo seu intérprete confuso.

* Nunca se soube qual era a função de Perséfone(Fabiana Karla) na história. Primeiro, a enfermeira era desesperada por perder a virgindade em cenas que nunca tiveram a menor graça. Walcyr, talvez vendo o quão ridículo era isso, resolveu usar a personagem para abordar o preconceito contra os obesos. A idéia era boa, mas não foi bem conduzida. De repente, todos perceberam que Perséfone era gorda. E as cenas em que a enfermeira era discriminada soaram artificiais. Por fim, a enfermeira virou motivo de piada por ter feito um "bigodinho"(como era chamada sua depilação íntima), gerando seqüencias constrangedoras! Só mesmo uma comediante talentosa como Fabiana Karla para dar alguma credibilidade a essa bobajada!

* Casais repetitivos: Patrícia(Maria Casadevall) e Michel(Caio Castro) tiveram como única função na obra se agarrar e transpirar sexo. Nada mais! E a entrada de Guto(Márcio Garcia) e Sílvia(Carol Castro), completando esse quadrilátero, só fez tudo ficar ainda mais cansativo!

* Vilãs sem função: Alejandra(Maria Maya), Glauce(Leona Cavalli) e Leila(Fernanda Machado) prometiam muitas maldades, mas foram tendo seus papéis esvaziados na trama, talvez devido a modificações feitas por Walcyr Carrasco na sinopse. Em casos como esse, em que as personagens não servem pra nada, o mais digno a ser feito é matá-las. E foi o que o autor fez. Glauce e Leila, pelo menos, se despediram da trama em grande estilo. Já Alejandra, depois de ter sequestrado Paulinha(Klara Castanho), ameaçado matar a garota, e incriminado Paloma por tráfico de drogas, teve uma overdose e, do nada, resolveu se redimir e inocentar a mocinha antes de morrer! Nunca se soube também porque a bandida não entregou Félix como sendo o mandante dos crimes! Pode? Entre essas megeras, apenas Aline se salvou. Não á toa, foi se tornando a grande antagonista do folhetim.

* Mau-aproveitamento de doenças: o cancer de mama de Sílvia foi totalmente gratuito, assim como a paraplegia de Leila. O vírus HIV contraído pela enfermeira Inaiá(Raquel Villar) também não foi bem abordado. O lúpus de Paulinha também não tinha razão de existir no enredo, embora o transplante de fígado tenha servido para aproximar a menina de sua mãe verdadeira, Paloma. A tremendeira nas mãos de Lutero podiam ser sintomas do Mal de Parkinson, mas a questão nunca foi aprofundada e o personagem ainda voltou a operar nos últimos capítulos mesmo com as mãos tremendo. E o alcoolismo de Vivian(Ângela Dip), além de ter pouco espaço, era até motivo de piada.

* A esticada na novela: prevista pra ter 203 capítulos, Amor á Vida foi até o 221. Esses capítulos a mais só prejudicaram a novela ainda mais, pois a história andou em círculos durante a maior parte do tempo.

Ah, e o núcleo de Nicole merece um trópico especial. Marina Ruy Barbosa mandou muitíssimo bem no início da trama e o drama de sua personagem, que sofria de uma doença terminal e era alvo de um casal de golpistas(Thales e Leila), se destacou a ponto de, em alguns momentos, ofuscar a trama principal. E a jovem atriz ainda formou um belo casal com Ricardo Tozzi. Mas a polêmica em torno de seus cabelos(que ela acabou se recusando a cortar) foi tão grande que ofuscou a história. O autor, então, decidiu matar a personagem e transformá-la um fantasma que assombraria os golpistas. E foi aí que esse núcleo se perdeu. A aparição da "noiva-cadáver" gerou cenas bizarras! Aí surgiu uma irmã bastarda de Nicole - Natasha(Sophia Abrão) - que ninguém sabia que existia, só Lidia(Ângela Rabello), que era sua mãe. Se Nicole tinha uma irmã, porque Lídia nunca revelou isso á jovem? Não só teria evitado o golpe de Thales e Leila como também daria uma alegria á mocinha doente em seus últimos momentos de vida! Pra piorar, essa personagem caída de pára-quedas no enredo ganhou a atuação vazia e inexpressiva de Sophia Abrão. Era a história de amor entre Nicole e Thales que justificaria o título da novela, Amor á Vida, pois o escritor, após se apaixonar de verdade pela órfã milionária, lutaria para que ela ficasse curada. Mas uma polêmica de bastidores acabou destruindo o que poderia ser uma bela história. Que pena!

Enfim, é por essas e por outras que Amor á Vida, apesar dos bons momentos, não figurará entre as melhores novelas do horário nobre da Globo. Que venha Em Família!

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